sábado, 19 de setembro de 2009

A Cabana - Fique longe dela

Recentemente, as vendas do livro A Cabana aproximaram-se de [sete] milhões de cópias. Já se fala em transformar o livro em filme. Mas, enquanto o romance quebra os recordes de vendas, ele também rompe a compreensão tradicional de Deus e da teologia cristã. E é aí que está o tropeço. Será que um trabalho de ficção cristã precisa ser doutrinariamente correto?

Quem é o autor? William P. Young [Paul], um homem que conheço há mais de uma década. Cerca de quatro anos atrás, Paul abraçou o “Universalismo Cristão” e vem defendendo essa visão em várias ocasiões. Embora freqüentemente rejeite o “universalismo geral”, a idéia de que muitos caminhos levam a Deus, ele tem afirmado sua esperança de que todos serão reconciliados com Deus, seja deste lado da morte, ou após a morte. O Universalismo Cristão (também conhecido como a Reconciliação Universal) afirma que o amor é o atributo supremo de Deus, que supera todos os outros. Seu amor vai além da sepultura para salvar todos aqueles que recusaram a Cristo durante o tempo em que viveram. Conforme essa idéia, mesmo os anjos caídos, e o próprio Diabo, um dia se arrependerão, serão libertos do inferno e entrarão no céu. Não pode ser deixado no universo nenhum ser a quem o amor de Deus não venha a conquistar; daí as palavras: reconciliação universal.

William P. Young, autor de A Cabana.


Muitos têm apontado erros teológicos que acharam no livro. Eles encontram falhas na visão de Young sobre a revelação e sobre a Bíblia, sua apresentação de Deus, do Espírito Santo, da morte de Jesus e do significado da reconciliação, além da subversão de instituições que Deus ordenou, tais como o governo e a igreja local. Mas a linha comum que amarra todos esses erros é o Universalismo Cristão. Um estudo sobre a história da Reconciliação Universal, que remonta ao século III, mostra que todos esses desvios doutrinários, inclusive a oposição à igreja local, são características do Universalismo. Nos tempos modernos, ele tem enfraquecido a fé evangélica na Europa e na América. Juntou-se ao Unitarianismo para formarem a Igreja Unitariana-Universalista.

Ao comparar os credos do Universalismo com uma leitura cuidadosa de A Cabana, descobre-se quão profundamente ele está entranhado nesse livro. Eis aqui algumas evidências resumidas:

1) O credo universalista de 1899 afirmava que “existe um Deus cuja natureza é o amor”. Young diz que Deus “não pode agir independentemente do amor” (p. 102),[1] e que Deus tem sempre o propósito de expressar Seu amor em tudo o que faz (p. 191).

2) Não existe punição eterna para o pecado. O credo de 1899 novamente afirma que Deus “finalmente restaurará toda a família humana à santidade e à alegria”. Semelhantemente, Young nega que “Papai” (nome dado pelo personagem a Deus, o Pai) “derrama ira e lança as pessoas” no inferno. Deus não pune por causa do pecado; é a alegria dEle “curar o pecado” (p. 120). Papai “redime” o julgamento final (p. 127). Deus não “condenará a maioria a uma eternidade de tormento, distante de Sua presença e separada de Seu amor” (p. 162).

3) Há uma representação incompleta da enormidade do pecado e do mal. Satanás, como o grande enganador e instigador da tentação ao pecado, deixa de ser mencionado na discussão de Young sobre a queda (pp. 134-37).

4) Existe uma subjugação da justiça de Deus a seu amor – um princípio central ao Universalismo. O credo de 1878 afirma que o atributo da justiça de Deus “nasce do amor e é limitado pelo amor”. Young afirma que Deus escolheu “o caminho da cruz onde a misericórdia triunfa sobre a justiça por causa do amor”, e que esta maneira é melhor do que se Deus tivesse que exercer justiça (pp. 164-65).

Será que um trabalho de ficção cristã precisa ser doutrinariamente correto?


5) Existe um erro grave na maneira como Young retrata a Trindade. Ele afirma que toda a Trindade encarnou como o Filho de Deus, e que a Trindade toda foi crucificada (p. 99). Ambos, Jesus e Papai (Deus) levam as marcas da crucificação em suas mãos (contrariamente a Isaías 53.4-10). O erro de Young leva ao modalismo, ou seja, que Deus é único e às vezes assume as diferentes modalidades de Pai, Filho e Espírito Santo, uma heresia condenada pela igreja primitiva. Young também faz de Deus uma deusa; além disso, ele quebra o Segundo Mandamento ao dar a Deus, o Pai, a imagem de uma pessoa.

6) A reconciliação é efetiva para todos sem necessidade de exercerem a fé. Papai afirma que ele está reconciliado com o mundo todo, não apenas com aqueles que crêem (p. 192). Os credos do Universalismo, tanto o de 1878 quanto o de 1899, nunca mencionaram a fé.

7) Não existe um julgamento futuro. Deus nunca imporá Sua vontade sobre as pessoas, mesmo em Sua capacidade de julgar, pois isso seria contrário ao amor (p. 145). Deus se submete aos humanos e os humanos se submetem a Deus em um “círculo de relacionamentos”.

8) Todos são igualmente filhos de Deus e igualmente amados por ele (pp. 155-56). Numa futura revolução de “amor e bondade”, todas as pessoas, por causa do amor, confessarão a Jesus como Senhor (p. 248).

9) A instituição da Igreja é rejeitada como sendo diabólica. Jesus afirma que Ele “nunca criou e nunca criará” instituições (p. 178). As igrejas evangélicas são um obstáculo ao universalismo.

10) Finalmente, a Bíblia não é levada em consideração nesse romance. É um livro sobre culpa e não sobre esperança, encorajamento e revelação.

Logo no início desta resenha, fiz uma pergunta: “Será que um trabalho de ficção precisa ser doutrinariamente correto?” Neste caso a resposta é sim, pois Young é deliberadamente teológico. A ficção serve à teologia, e não vice-versa. Outra pergunta é: “Os pontos positivos do romance não superam os pontos negativos?” Novamente, se alguém usar a impureza doutrinária para ensinar como ser restaurado a Deus, o resultado final é que a pessoa não é restaurada da maneira bíblica ao Deus da Bíblia. Finalmente, pode-se perguntar: “Esse livro não poderia lançar os fundamentos para a busca de um relacionamento crescente com Deus com base na Bíblia?” Certamente, isso é possível. Mas, tendo em vista os erros, o potencial para o descaminho é tão grande quanto o potencial para o crescimento. Young não apresenta nenhuma orientação com relação ao crescimento espiritual. Ele não leva em consideração nem a Bíblia, nem a igreja institucional com suas ordenanças. Se alguém encontrar um relacionamento mais profundo com Deus que reflita a fidelidade bíblica, será a despeito de A Cabana e não por causa dela. (extraído de uma resenha de James B. De Young, Western Theological Seminary - The Berean Call -http://www.chamada.com.br/)


Nota:

  1. As páginas citadas são as da edição original em inglês.
Publicado anteriormente na revista Chamada da Meia-Noite, setembro de 2009.

9 comentários:

Maria José Rezende de Lacerda disse...

Eu li o livro e gostei muito, exatamente porque fala de amor e de religião, no sentido certo da palavra, que é religare, ou seja, religar a Deus. Encontrar Deus e o colocar em sua vida. Abraços.

Hermes C. Fernandes disse...

Parabéns pelo belo trabalho no blog. Já estou seguindo.

Aproveito para lhe convidar a conhecer o meu blog, e se desejar segui-lo, será uma honra.

Seus comentários também serão muito bem-vindos.

www.hermesfernandes.blogspot.com

Abraço fraterno!

Anônimo disse...

Primeiramente gostaria de dizer que fico contente por te-los como seguidores do nosso blog. Quero também parabenizá-los pelo texto mas não concordo com todo ele.
Existe uma linha tênue entre universalismo e Aniquilacionismo, sugiro, amado irmão que leia a mensagem "Não existe inferno" em nosso blog.
Discorde se achar necessário. Ficarei feliz emresponder seus comentários.
Um Abraço do seu irmão Edson Moura

Natalino disse...

Olá ! Bom dia na graça e na paz do Senhor Jesus.
Vim aqui especialmente para agradecer por seguir meu humilde blog e avisar que tem um Selo comemorativo pelos 200 seguidores. É simples, mas é de todo coração que lhe ofereço.
Muito obrigado!!

http://blogdonatalino.blogspot.com/2009/10/200-seguidores-no-ame-missoes.html

Psicanalista e Pastor Fábio Menen disse...

Graça e paz!

Gostei de seu blog e estou seguindo.

Virei sempre aqui para "beber desse poço", grande abraço.

Mila Mota disse...

Oii..
gostei muito do seu blog! Que Deus abençoe vca imensamente!
qnd0o der dah uma passadinha lah no meu blog, fiz ele agora pouco!
vai ser um prazr saber que vcs passaram por lah!
Paaaaz

Sidney Alves Amaral disse...

Muito bom seu blog, textos que edificam nossas vidas.
Não pare, não deixe de escrever, esta ferramenta é muito importante apara o Reino.
Um grande abraço,
Sidney

Unknown disse...

Bem discordo um pouco com seu texto!Li o livro,sou evangelica e concordo com o livro no que diz respeito em que Deus é amor e ama a todos os seus filhos que estão aqui na terra,sejam eles,evangelicos,catolicos,enfim cristãos ou não!Só que existe um detalhe Deus é bondoso é educado, e apesar de amar a todos nós ele não entra em nossas vidas sem ser convidado.Doutrinas feitas por homens,ou seja,"religião",acaba por separando as pessoas de Deus e entre si mesmas,o que nos une a Deus em minha opinão é a palavra dele em nossas vidas e o nosso relacionamento sincero com ele!

Fica na paz!
JAKELINE

Anônimo disse...

Ñ concordo com essa visão do livro.O li quando estava passando por um momento muito dificil da minha vida e ele edificou minha vida espiritual de uma forma surpreendente.
E foi uma história que aconteceu com uma pessoa. Fundamentos feitos pelos homens não pode explikar sobre os relacionamentos de Deus com os homens, porem vem de cada um acreditar ou não.
Eu Digo que acredito sim!